Ao contrário do que se imagina, a
gestão de uma empresa familiar não é tarefa simples. A administração dos
relacionamentos familiares pode ser a razão do sucesso ou fracasso da
companhia. O assunto torna-se ainda mais delicado quando envolve o processo de
transição por outro membro da família.
No entanto, apesar das dificuldades, os
dados não são apenas negativos: há inúmeros casos de sucesso, nos quais os
herdeiros conseguiram dar continuidade ao árduo trabalho do fundador. E
engana-se quem pensa que este é um processo apenas das grandes empresas;
pequenas e médias também precisam enfrentar a sucessão, que pode ser a fase
decisória para sua continuidade ou dissolução.
A empresa Zildjian surgiu na Turquia em
1623 e hoje é administrada pela 14ª geração da família, honrando seus quase
quatro séculos de tradição ao manter-se como a maior fabricante de pratos para
baterias. A companhia hoje tem sede nos Estados Unidos e destaca-se pela
qualidade do produto, controlando, assim, 65% do mercado mundial. A mistura de
metais para criação dos pratos desenvolvida pelo fundador da empresa, Avedis
Zildjian I, até hoje é um mistério do qual poucos empregados têm acesso.
Contudo, este é apenas um dos segredos
do sucesso da companhia. Qualquer familiar que pretenda trabalhar na empresa
necessita do diploma universitário, preferencialmente relacionado com gestão de
negócios, além de experiência em outras empresas, o que demonstra a importância
da profissionalização dos membros da família.
Em seus 60 anos de existência, a
padaria Pão de Açúcar transformou-se em uma das maiores redes de supermercados.
Chegou a ver a falência de perto ao fechar 400 unidades e demitir quase 30 mil
funcionários. Foi então que o empresário Abílio Diniz, filho do fundador da
empresa, Valentim dos Santos Diniz, conseguiu transformar o grupo familiar num
dos mais tradicionais do país: vendeu imóveis e carros da companhia, realizou
empréstimos, fechou lojas não lucrativas e vendeu empresas coligadas. Em 2006,
o grupo contratou pela primeira vez alguém que não é membro da família para
presidir a companhia, o que permitiu uma maior flexibilidade nas tomadas de
decisões.
Ao final da década de 50, seu Duda e
dona Adelina decidiram transformar em camisas um estoque de tecidos outrora
comprado de forma exagerado. Hoje, a Dudalina produz cerca de 2 milhões de
peças por ano. Exemplo bem sucedido no processo de sucessão de uma empresa
familiar, Sônia Hess de Souza, a sexta dos 16 filhos do casal, que quando
criança ajudava a embalar as camisas, assumiu a presidência em 2003 junto com
mais dois irmãos. A família apostou na profissionalização e três netas do casal
fundador já estão trabalhando na empresa, assim, evita-se um processo
sucessório difícil, verificando-se a competência, vocação e vontade dos
herdeiros para gerir os negócios.
Com base nestes e outros exemplos de
sucesso, é possível afirmar que independente do fechamento ou abertura de
capital, de sucessão familiar ou profissional, a transição nas empresas
familiares precisa do comprometimento tanto dos fundadores quanto dos
herdeiros, que, em conjunto com uma Assessoria Jurídica especializada no
assunto, podem assegurar a longevidade da empresa, de forma saudável e
sustentável.
Beatriz B. Nóbile e Polyanna L. Barbosa